<$BlogRSDUrl$>

quarta-feira, setembro 30, 2009

CASTELO BRANCO - OUTUBRO 

CASTELO BRANCO - OUTUBRO
I
A escola secundária andava pelas ruas
já de cachecol máxi e botas altas
assim azul e um pouco desajustada
pelos cafés e lugares melhor frequentados.

A cidade recebia-a
nas suas casas sem janelas
e explicadores frustados.
Era vista todas as segundas feiras
depois das aulas com o namorado
sorridente e um pouco tímida
mas muito boa rapariga pelo menos
cheia de boas intenções e pouco cuidado
não lhe vá acontecer alguma e ficar abandonada
pois ser bem parecer bem e mostrar algum respeito
mesmo quando fica completamente encarnada
coitada em especial quando recusa
discretamente e um pouco cúmplice
o charro do grupo dos amorosos do sonho
enfim vale mais estar calada.
II
Ali assim sentados como dois compadres
a ver os outros indiferentemente
divertidos
a falar com os olhos com a boca
com as mãos e tudo
durante uma tarde inteira no meio da gente
no café dos pobres
a beber uns cariocas parvos
depois de laranjadas e bagaços
e assuntos desempregados
até às tantas
porque não há aulas às duas e meia
nem física ou matemática pra chatear.
Ali assim
fartos de esperar não se sabe o quê
com a felicidade na ponta dos olhos em riste
só às vezes avistada só às vezes esboçada
como um desenho inacabado e triste.
#

TRAGAM O PÃO COLOQUEM A JARRA

As águas perdidas no fim do Verão
por esses valados aonde irão ter
vindas das montanhas que ninguém ainda viu?

Por sombras húmidas esvoaçam verdes
pássaros fugindo da noite onde estão
nas matas de silvas picam-nos formigas
horizonte de chuva negra chuva azeda
São terras lavradas troncos de oliveiras
ervas já molhadas e pinháis em fúria
corvos de outras eras penhascos de cinza
pássaros azúis já só dão tristeza

Ainda na casa a lareira acesa
que frio faz na terra o sol já morreu
tragam o pão coloquem a jara
a sopa e chamem para a mesa.
#

SUBURBANOS
Com a luz que há no corpo
de quem adormece ao solveio das sala prá cozinha
no sofá junto à janela
diz com voz apaziguada
isto ainda não foi nada
depois saíu para a rua.

A sombra que ali ficou
e se espalhou pelo ar
foi mosca a voar na sala
a televisão desligada
e os pratos por lavar.


Por hoje é tudo e esperando que gostem do que escrevi

Um abraço do António Tropa

segunda-feira, agosto 31, 2009

RETRATO SUBURBANO 

A chuvinha da noite convidava
a ser feliz só com o pensamento
e não entrar assim desamparado
nas alucinadas e traiçoeiras luzes
de sábado que corriam p´rá cidade
para cumprir não sei que mandamento
que obriga à procura sem cessar
de alegria enquanto aqui estivermos
com olhares que não nos tocam dentro
nem sorrisos que sabemos partilhar.
Pessoas como nós mas só por fora
que não deixamos entrar só por entrar
por medo ou qualquer outra tristeza
e tão pouco arrebatamento
que não deixam antever qualquer beleza
em tal falta de verdade ou sentimento.

terça-feira, abril 26, 2005

IV- O MOTOR A CANTAR 

1. Um motor a cantar
no silêncio das colinas.

2. Alguém se lembrou de olhar
esta paisagem vazia?

3. No monte de S. Francisco
um rapazito assobiou aomeio dia.

4. Por estas pedras ficaremos ao passar.

5. Na aldeia ao sol
foi colher saudades
Embora sem saber bem
como é

não entrou nas casas
foi pelas ruas
sentou-se à porta do café.

6. O meu amor deve por lá andar
disse:
É nestas tardes que aspessoas se costumam matar.



quinta-feira, abril 07, 2005

SOS - SAUDADE OU STRESS 

Estava ela sentada
a passar a mão na cara
enquanto des(esperava)
que a tarde breve chegasse
para alcançar a cancela
que fica do outro lado
pois só aí descansava.

Assim ali estava ela
a escrever nuns papéis
mas sempre à procura dela
enquanto num outro sol
com olhos de passarinho
estava um lindo menino
o seu filho assim como era
a brincar na relva fresca
enquanto os combóios passavam
sem a mamã mas contente
por estar no meio da gente
que faz da vida uma festa.

E ela a pensar naquilo
enquanto escrevia a carta
para a firma do raios partam
a vida que a gente leva.
Lisboa, 22 Março 2005


Com um abraço


António Tropa



QUOTIDIANO URBANO 

Não sei bem se eram gladíolos brancos
num ramo de folhas de cipreste
que a mulher maluca trazia ao peito
para ver de perto o Sr. Presidente.

Com vestido de viúva pintada
e dentes de gente fina decadente
ralhava e batia nos miúdos à volta
que imitavam reportagens e lhe tiravam o retrato.

Depois veio um polícia há muito por ali
mas não foi por isso que as coisas mudaram
as águas do rio de repente escureceram
e o sol tornou-se mesmo uma coisinha de nada.

Então ela mostrou um livro da missa
levantou-o bem alto e cuspiu para as pessoas
uns que tinham razão outros que não devia
ter batido no miúdo um tabefe tão vermelho.

Que ela "coitadinha não tinha nada culpa"
ou então que "era puta pois estava só a mostrar as pernas".

Uns riam outros olhavam outros não diziam nada
outros falavam falavam falavam
só falavam.



This page is powered by Blogger. Isn't yours?