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segunda-feira, dezembro 06, 2004

3 POEMAS PARA LINA  

I - Se a gente quando morre vai para o céu
a Lina com certeza é dos que vai
na esperança com que toda a noite sai
nestes tempos perigosos e de sida
à procura dum amor para toda a vida.

II - Na casa dela o que falta é um abraço.
Quem não esquece chegará à porta
já se ouve a chuva no telhado.
À beira do abismo e tanta gente.
Onde irá tanta luz
tanto esquecimento.

III - Não será só a sombra dos teu olhos
que me faz ter mais pena de ti
é olhar para ti como nos espelhos.

Tanta noite perdida sem amor
tanta vida e tanto para ser
mas o difícil o cruel é não saber.

Não saber e nem sequer sentir.

O castigo de quem não quer morrer
ou pensar na morte e no prazer.

António Tropa


DEVE HAVER UMA PORTA DE SAÍDA  

Deve haver uma porta de saída
para tanta indiferença
nesta multidão anónima e apressada.

Recordar o cheiro da terra
do vento do sol das manhãs floridas
nestas ruínas
não é o mesmo que senti-lo.

Depois este tédio este pesar
pela vossa nossa antiga alegria.

É como ter perdido todas
as pessoas. Nossos pais nossos amigos
pelas ruas escuras da vida.

António Tropa


PAISAGEM SUBURBANA  

Depois do muro destruído pela insistência
dos mais ágeis que teimam em passá-lo
num campo amarelado raras árvores
um riacho poluído escorre
entre o verde de canas e silvados.

Além das grades do quartel ninguém pode
passar e um ligeiro medo
paira ali no ar muito pesado.

Seguindo um carreiro não se vê
ninguém a não ser meio escondido
um homem ainda novo de olhar morto
e a tristeza de nunca ter chegado
a lado algum.

Depois ainda o muro: cal e segredos.
ao fundo onde ninguém pode avançar
quintais.

Fica-se assim ali de olhar parado
a ver ao longe os montes muito azúis.

Assim é a vida. Muitas vezes sem saída
a única solução é voltar para trás.

António Tropa


domingo, dezembro 05, 2004

POEMA MUITO ACTUAL  

Posso compreender que em ti pouco corresponda
ao que gostarias de ser Ana, contudo o teu sorriso
às vezes é bonito
apesar dos óculos da palidez da sombra
que te faz parecer frágil, assustada e
entrar à defesa em qualquer relação.

Por isso nos últimos tempos tens evitado
expor-te muito e neste caso
a Internet facilita bastante a imaginação.

A violência sobre ti foi exercida
apenas com palavras, gritos, alguns actos
impedem agora de te sentires mais serena
e conformada.

A distância tem-te protegido da angústia
de rejeição. Longe ninguém pode agravar muito
o que em ti já existia.

A Net é a filha mais nova
da solidão.

Com um abraço do
António Tropa


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